terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

REZAR X ORAR



UNAMO-NOS TODOS NO EVANGELHO. SOMOS TODOS FILHOS DE DEUS!

REZAR X ORAR 


ASSIM COMO atestam Michaellis, Aurélio e todos os dicionários da língua portuguesa, os termos orar e rezar são sinônimos. Aliás, é importante notar que essa duplicidade de termos que expressam uma mesma realidade é característica de nossa língua pátria. Em inglês, por exemplo, o verbo to pray significa exatamente o mesmo: orar ou rezar, tanto faz. Em italiano, usa-se a palavra pregare, que poderia ser traduzida como "suplicar" e que tem o mesmo sentido de orar ou rezar em nosso idioma.

No desenvolvimento do português, – esta língua tão complexa, – surgiram muitos termos sinônimos, como: andar e caminhar; experimentar e experienciar; trabalhar e laborar; alimentar e nutrir; orar e rezar, etc, etc... De fato, não há absolutamente nenhuma razão para se diferenciar radicalmente os termos orar e rezar. Na Santa Missa, por exemplo, o sacerdote tanto usa a expressão "oremos" quanto, – na oração dos fiéis ou na homilia, – pode dizer "rezemos". Infelizmente, porém, de algum tempo para cá, foram levantadas algumas polêmicas que têm levado algumas pessoas a crer que existe uma grande diferença entre orar e rezar.

E assim, muitas pessoas assumem essa ideia equivocada. Pior: repreendem as pessoas que utilizam o termo “rezar”, alegando que significa repetir "vãs palavras", enquanto que "orar" seria, verdadeiramente, falar com Deus. Analisaremos bem a questão, a seguir. Antes, vejamos o que a própria Escritura tem a dizer sobre questões como esta.

Lembremo-nos, como pessoas que procuram seguir sua vida com base no Evangelho, que sempre precisamos nos ater à conduta correta que busca o entendimento e a concordância, e não ser como àqueles descritos neste trecho da Bíblia:

    “Esses tais demonstram um interesse doentio por controvérsias e contendas acerca das palavras, que resulta em inveja, brigas e atritos constantes...”
    (1Tm 6, 4)

Como vemos, esse tipo de controvérsia sobre palavras não é nenhuma novidade. Voltando à questão, por que se apegam alguns a essa grande diferença inventada, entre palavras que são, na realidade, sinônimas? O que alegam, como já dissemos, é que rezar seria uma vã repetição de palavras decoradas, feita mecanicamente, enquanto que orar seria falar a Deus daquilo que vem do coração, com entrega, com fé e amor.

Entendemos não haver base sólida que sustente este argumento.

Em primeiro lugar, não é verdade que os católicos só podem se utilizar de orações prontas para falar a Deus. Todo católico pode e deve elevar suas próprias orações espontâneas ao Criador, usando as palavras que lhe vêm ao coração, para pedir, louvar, dar graças. O uso das fórmulas prontas sempre serviu (e serve) como uma espécie de guia, para orientar sobre a maneira correta de falar a Deus, conforme instruiu o próprio Senhor Jesus Cristo: quando um dos discípulos lhe perguntou como deveriam rezar ou orar (Lc 11,1-4. Mt 6,9-14), Ele não respondeu: "falem como quiserem, digam as palavras que lhes vierem ao coração". O que o Senhor fez foi ensinar a oração do Pai Nosso, dizendo: "Quando orardes, dizei assim...". –  O Senhor mesmo, pessoalmente, ensinou uma fórmula pronta, para que compreendêssemos o que era mais importante pedir a Deus, e em que ordem e de que maneira devemos fazê-lo.

Por meio desse modelo, Jesus nos ensinou como devem ser as nossas orações e como elas se tornam aceitáveis a Deus, nosso Pai do Céu. Vemos que pode ser muito útil usar fórmulas prontas como orientadoras para os nossos momentos de oração. Foi assim que o Cristo nos ensinou, e isso não quer dizer, de modo algum, que nossa oração será feita mecanicamente, sem entrega, sem devoção, sem amor.

Muitos católicos ao rezar/orar, primeiramente rezam/oram o Pai Nosso e, após, iniciam a sua conversa pessoal de coração, franca e sincera com Deus. Isto não quer dizer que as palavras proferidas enquanto se rezava/orava o Pai Nosso fossem meras repetições, pronunciadas sem sentimento.

O "X" da questão: E o que está na Bíblia?

Muitos defensores da “contenda” citam um texto do Evangelho de Mateus:

    “...Orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.” (Mt 6,7)

A tradução acima é a do protestante português J. F. de Almeida (das versões 'corrigida e revisada' ou 'revisada imprensa bíblica'). Outras versões trazem traduções diferentes, e existe, no mínimo, uma controvérsia em se usar a expressão "vãs repetições". Entretanto, o que realmente importa, mais do que as diferenças entre traduções, é saber o que verdadeiramente diz o Texto Sagrado. Finalizemos então o assunto da melhor maneira possível: analisando o texto bíblico original, em grego.

    “Προσευχόμενοι δὲ μὴ βατταλογήσητε ὥσπερ οἱ ἐθνικοί, δοκοῦσιν γὰρ ὅτι ἐν τῇ πολυλογίᾳ αὐτῶν εἰσακουσθήσονται”. (Transliteração: 'Proseukomenoi de me battaloyesete osper oi etnikoi, dokusin gar oti en te polylogia auton eisakustesontai').
 
O vocábulo-chave aí é πολυλογίᾳ, que se pronuncia polylogia, e se traduz da seguinte maneira: poly quer dizer muito, bastante, em grande número; logia quer dizer palavra, discurso, descrição, linguagem, estudo, teoria. No contexto em questão, o termo está mais diretamente relacionado ao sentido de palavra. Polylogia, portanto, quer dizer algo como tagarelice, falatório, verborragia, prolixidade. Como vemos, na fiel tradução desta passagem, dificilmente caberia a expressão “vãs repetições”, tão alardeada.

Outro ponto importantíssimo é compreender que Jesus diz que não devemos falar muito, multiplicando as palavras (atenção) do mesmo modo como fazem os pagãos. É claro que os pagãos não recitavam os salmos, nem as orações dos judeus e muito menos o Pai Nosso, que o Senhor ensinou aos seus discípulos. Se o fizessem, seriam recriminados? Certamente que não.

Agora, se "rezar" fosse o mesmo que usar de "vãs repetições", no sentido de repetir as mesmas palavras, então Jesus mesmo rezava, como vemos no Evangelho segundo S. Marcos, que mostra o Cristo falando a Deus Pai no jardim de Getsêmani, antes de Judas o trair:

    "E, afastando-se de novo, orava dizendo novamente a mesma coisa..." (Mc 14, 39)

Estaria Nosso Senhor Jesus Cristo “apenas rezando”? Usando de “vãs repetições”. Meus irmãos, cremos que não.

É importante não apenas “memorizar” a Bíblia, mas procurar entender o seu contexto e seus significados realmente profundos. Ademais, como seguidores do Evangelho,

PRECISAMOS NOS POLICIAR... CATÓLICOS, ORTODOXOS, PROTESTANTES e demais...

para não procurar, pura e simplesmente, valorizar as diferenças, por menores que sejam, aumentando cada vez mais o fosso da separação entre cristãos. Ainda pior, querelas fúteis como esta servem de pretexto para alimentar a confusão entre os que buscam o verdadeiro cristianismo que é... seguir o Evangelho.

Para finalizar, observemos o Salmo 135/6, que reproduzimos abaixo (fizemos questão de usar a tradução protestante de J. F. de Almeida):

    "Louvai ao SENHOR, porque ele é bom;
    Porque a sua benignidade dura para sempre.

    Louvai ao Deus dos deuses;
    Porque a sua benignidade dura para sempre.

    Louvai ao Senhor dos senhores;
    Porque a sua benignidade dura para sempre.

    Aquele que só faz maravilhas;
    porque a sua benignidade dura para sempre.

    Aquele que por entendimento fez os céus;
    Porque a sua benignidade dura para sempre.

    Aquele que estendeu a terra sobre as águas;
    Porque a sua benignidade dura para sempre.

    Aquele que fez os grandes luminares;
    Porque a sua benignidade dura para sempre..."

 E assim prossegue a oração do salmista, até o final, repetindo sempre a mesma fórmula, de novo e de novo. Assim também é que cai por terra, definitivamente, o argumento de que os católicos usam de vãs repetições em suas orações, junto com a suposta importante diferença existente entre os termos "orar" e "rezar".

Tanto "rezar" quanto "orar" englobam todos os gêneros de súplicas a Deus, desde aqueles de petição e agradecimento até as orações de louvor e glorificação ao Criador. Não se trata de nenhum segredo escondido. Tudo que precisamos fazer é deixar de dar ouvidos aqueles que se consideram donos da verdade, e buscar a Vontade de Deus com amor soberano, pureza de alma, fé desapegada e absoluta sinceridade.

Levemos aos nossos irmãos a palavra do Evangelho, não levemos polêmicas inexistentes que nada servem ao desígnios do Criador.

(*) Adaptado de postagem feita no site O Fiel Católico "http://www.ofielcatolico.com.br/2001/05/diferenca-entre-orar-e-rezar-as-vas.html"