terça-feira, 29 de julho de 2008

Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!

O título desta crônica é a fala do rei Ricardo III na peça homônima de William Shakespeare. Na peça, a famosa frase é dita quando o rei se encontra em situação desesperadora necessitando urgentemente de um cavalo (ÓBVIO!).

Nunca precisei de um cavalo. Mas já precisei urgentemente de um meio de transporte terrestre... de preferência do gênero "magrela" do qual fazem parte motos, bicicletas e patinetes!

O ano era 1998. Prova de Redação pela 2ª fase do vestibular no campus da Universidade Estadual do Ceará - UECE.

Bairro da Parangaba. Segunda-feira. Trânsito caótico. Um acidente entre dois veículos em um cruzamento importante. O atropelamento de uma pessoa pelo trem que passa pelo bairro. Somando-se a isso o número de vestibulandos que como eu iam fazer a prova na UECE: O trânsito parou.

Tinha ido de carro com uma amiga. Ficamos 20 minutos parados em uma rua.

Próximo do horário de fechamento dos portões do campus, nós nos desesperamos. Estacionei o carro sobre uma calçada qualquer e saímos, eu e minha amiga, em busca de um moto-táxi. Eu de um lado da rua e ela do outro. Os poucos que passavam estavam ocupados.

O tempo vai passando... Aumenta o desespero...

"Uma moto! Uma moto! Meu reino por uma moto!"

De repente, eu o vejo. Em sua bike reluzente, cabelos ao vento, pedalando com vigor, renovando minhas esperanças (ficou muito gay mas vou deixar assim mesmo ;-))! Um rapaz em uma bicicleta-cargo, daquelas que tem uma espécie de cadeirinha na frente onde se coloca geralmente um cesto de pães ou um garrafão de água. A bicicleta-cargo não estava transportando nada!



Não resisti e fiz a "indecent proposal" (digna daquela feita por Robert Redford a Demi Moore em 1993 - é o novo!):

"Quanto você cobra para me levar para a UECE?"

Nunca vi uma pessoa tão assustada em toda a minha vida. Talvez tenha sido a forma da abordagem. Eu cheguei correndo perto dele, todo suado e grudento, fazendo a pergunta quase aos gritos.

O fato é que o pobre rapaz levantou-se do selim e passou a pedalar com velocidade para se afastar de mim enquanto vigiava se eu não o perseguia.

Na hora fiquei enraivecido com essa atitude. Hoje, só de lembrar, caio na maior gargalhada.

No fim, tudo deu certo. Eu e minha amiga conseguimos um moto-táxi e chegamos a tempo de fazer a prova (em cima da hora!).

Antes de morrer eu desejo reencontrar o pobre rapaz da bicicleta para me explicar.

Espero que não tenha ficado com trauma.

Espero que não tenha pedido demissão do emprego depois do incidente.

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